TRECHO DO LIVRO: Paulo e Estevão, pág 249 e 250.
Na mesma
época, possuía Filipes uma pitonisa que se celebrizara nas
redondezas. Como nas tradições de Delfos, suas palavras eram
interpretadas como oráculo infalível. Tratava-se de uma rapariga
cujos patrões procuraram mercantilizar seus poderes psíquicos. A
mediunidade era utilizada por Espíritos menos evoluídos, que se
compraziam em dar palpites sobre motivos de ordem temporal. A
situação era altamente renosa para os que a exploravam
descaridosamente. Aconteceu que a jovem estava presente à primeira
pregação de Paulo, recebida pelo povo com êxito inexcedível.
Terminado a exposição evangélica, os missionários observam a moça
que, em grandes brados que impressionavam o público, se põe a
exclamar:
—
Recebei os enviados do Deus Altíssimo!... Eles anunciam a
salvação!...
Paulo e
Silas ficaram um tanto perplexos; entre tanto, nada replicaram,
conservando o incidente no coração, em atitude discreta. No dia
seguinte, porém, repetia-se o fato e, durante uma semana, os
discípulos do Evangelho ouviram, após as pregações, a entidade
que se assenhoreava da jovem, atirando-lhes elogios e títulos
pomposos.
O
ex-rabino, no entanto, desde a primeira manifestação procurara
saber quem era a rapariga anônima e ficou conhecendo os antecedentes
do caso. Estimulados pelo ganho fácil, os patrões haviam instalado
um gabinete onde a pitonisa atendia às consultas. Ela, por sua vez,
de vítima ia passando a sócia da empresa, que pingues eram os
rendimentos. Paulo, que nunca se conformou com a mercancia dos bens
celestes, percebe u o mecanismo oculto dos acontecimentos e, senhor
de todos os particulares do assunto, esperou que o visitante do
invisível novamente aparecesse.
Assim,
terminada a pregação na praça, quando a jovem começou a gritar:
“Recebei
os mensageiros da redenção! Não são homens, são anjos do
Altíssimo!...”
O convertido de Damasco desceu da tribuna a
passos firmes e, aproximando-se da locutora dominada por estranha
influência, intimou a entidade manifestante, em tom imperativo:
—Espírito
perverso, não somos anjos, somos trabalhadores em luta com as
próprias fraquezas, por amor ao Evangelho; em nome de Jesus -Cristo
ordeno que te retires para sempre!Proíbo-te, em nome do Senhor,
estabeleceres confusão entre as criaturas, incentivando interesses
mesquinhos do mundo em detrimento dos sagrados interesses de Deus!
Imediatamente,
a pobre rapariga recobrou energias e libertou -se da atuação
malfazeja. O fato provocou enorme admiração popular.
O
próprio Silas que, de algum modo, se comprazia em ouvir as
afirmações da pitonisa, interpretando-as como um conforto
espiritual, estava boquiaberto.
Quando
se viram a sós, quis lhe dissesse Paulo os motivos que o levaram a
semelhante atitude, e perguntou-lhe:
—Acaso
não falava ela do nome de Deus? Sua propaganda não seria para nós
valioso auxílio?
O
Apóstolo sorriu e sentenciou:
—
Porventura, Silas, poder-se-á na Terra julgar qualquer trabalho
antes de concluído?
Diálogo entre Paulo e Silas o livro Paulo e Estevão,
psicografia de Chico Xavier, Romance ditado pelo
espírito Emmanuel