"O Espiritismo era apenas uma simples doutrina filosófica; foi
a Igreja quem lhe deu maiores proporções, apresentando-o como
inimigo formidável; foi ela, enfim, quem o proclamou nova religião.
Foi um passo errado, mas a paixão não raciocina melhor."
Observando-se o parágrafo acima, claramente percebemos que Kardec
nunca tinha visto, até então, o Espiritismo como uma religião. Tal
conceito ou atributo lançado à doutrina codificada por Kardec foi,
segundo seu entendimento, proposta por seguidores de outras
religiões, sendo os católicos os mais interessados naquele momento
devido ao seu número de adeptos, que legitimava uma grande
influência social e política.
Por motivos óbvios tal poder justificava o interesse em denegrir a
imagem dessa nova doutrina, comparando-a com seus próprios
preceitos, sobretudo quando se tratava da figura de Jesus.
Sendo a religião católica a que por 'direito' poderia se intitular
como cristã, fazia-se mister 'elevar' o Espiritismo ao patamar de
religião para justificar ao mundo sua postura não simplesmente
herege, mas sim blasfema, por se intitular como religião cristã.
Ainda em outro diálogo, inquirido sobre as questões dogmáticas
inerentes à todas as religiões, Kardec apresenta mais detalhes
sobre os fundamentos da doutrina espírita, em que ela realmente se
pauta, concluindo, sem rodeios, sobre o seu verdadeiro caráter:
"O Espiritismo é, antes de tudo, uma ciência, não cogita de
questões dogmáticas. Esta ciência tem consequências morais como
todas as ciências filosóficas" (…)
"Mais bem observado depois que se vulgarizou, o Espiritismo vem
derramar luz sobre grande número de questões, até hoje insolúveis
ou mal compreendidas. Seu verdadeiro caráter é, pois, o de uma
ciência e não de uma religião" (…)
"Eis por que, sem ser uma religião, o Espiritismo se prende
essencialmente às ideias religiosas, desenvolve-as naqueles que não
as possuem, fortifica-as nos que as têm incertas."
--- KARDEC ---
"A religião encontra, pois, um apoio nele (no espiritismo), não
para as pessoas de vistas estreitas, que a veem integralmente na
doutrina do fogo eterno, na letra mais que no espírito, mas para
aqueles que a veem segundo a grandeza e a majestade de Deus."
Observe que Kardec faz questão de anunciar que um e outro são
coisas distintas, mas que a religião pode ter, no Espiritismo, o
apoio para a consolação.
Ou seja, a religião pode precisar do Espiritismo, mas o contrário
não é verdade. Muitos de nós esquecemos disso e o que temos feito
desde o século passado é conceituar a Doutrina Espírita com as
nossas próprias características sócio-filosóficas humanas.
Quem é religioso é o movimento espírita, e não o Espiritismo.
-fonte: Fórum Espírita-
Nenhum comentário:
Postar um comentário